quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

As revistas de 1979

Há trinta anos, as revistas de música que lia, resumiam-se a duas: a Rolling Stone e a Rock & Folk .
A revista Feature que aparece na imagem é de 1979 mas foi comprada há pouco, por ser uma herdeira da Crawdaddy, entretanto desaparecida.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Músicas de há trinta anos- 1979.



Em 1979, lembro-me bem, nos primeiros meses, por circunstâncias pessoais e trágicas, deixei de ouvir música, durante muito tempo.

Um dia, ou uma tarde, em descanso de sesta, acordei com uns sons que já tinha ouvido antes e não prestara atenção: no rádio soava "Reeling in the years", dos Steely Dan, de 1973 ( LP Can´t buy a thrill) com a guitarra de Elliott Randal ( um músico de estúdio que suplantou Jeff Baxter no solo, por este não o apanhar bem na altura e a quem este pediu para o tocar). O solo já foi considerado pelo próprio Jimmy Page, como o seu favorito de sempre ( informação do livrito The complete guide to the music of Steely Dan). Essa música particular retirou-me da letargia e voltei a ouvir música que nesse ano ainda não acabara de todo, como na canção de Don McLean.
No início do ano saíra um disco de interesse na música reggae, misturada com rock/pop. Bush Doctor, de Peter Tosh, com a colaboração de Mick Jagger é um disco cujo tema de abertura, Gotta Walk, don t look back, saiu em single no final de 1978 e tem vocalização daquele. No entanto, o que chama a atenção sonora é a rítmica de ferro de Sly Dunbar e Robbie Shakespeare uma dupla que viria a dar muito que falar na música popular. O disco é dos melhores no reggae, versão pop.
Também nos primeiros meses, saiu Minute by minute dos Doobie Brothers, com o êxito What a fool believes e o instrumental fantástico Steamer lane breakdown.
Os Bee Gees que em 1977 tiveram um êxito de estrondo com o disco-sound de Saturday Night Fever reincidiram no início de 1979, com o disco Spirits haveng flown, um disco que alinha uns tantos êxitos discretos que ainda hoje se ouvem com proveito, seja Too much heaven ou Tragedy.
Os Roxy Music, com o disco Manifesto, iniciaram o caminho para Avalon, com Angel eyes e Dance away, com Rick Marotta na bateria e Richard Tee nos teclados em piano.

Em Abril saiu um disco ao vivo dos Cheap Trick, gravado no Budokan do Japão e um dos melhores discos ao vivo de música popular. Em Maio, um disco dos Tubes, Remote Control, associa-se a esse tipo de música americana.
No mesmo Budokan foi gravado o disco ao vivo de Bob Dylan, saído em Junho e uma desilusão em relação ao Before the Flood, de anos antes, como aliás já o tinha sido o Hard Rain, igualmente ao vivo e saído em 76.

Em Abril saiu igualmente um disco de Frank Zappa, Sheik Yer Bouti, um dos maiores sucessos do músico e que o mesmo atribuía...à capa que representava um árabe de dejehlaba, a fumar o cigarrito da praxe na contra-capa. O disco é uma maravilha da música popular e que percorre todos os estilos do country ao jazz, passando pelo hard rock. É um dos grandes discos do ano e cujos temas se encadeiam num audição de interesse geral.
No final do ano Zappa publicou ainda um duplo LP, da trilogia Joe´s Garage, outra obra de grande fôlego artístico e com capa a condizer.
Com o recuo do tempo, esses dois discos são dos mais importantes do ano.
Os Supertramp, lançaram nessa altura o disco de canto do cisne, depois de três discos fabulosos em que se espraia de modo sonoro, o génio de Roger Hdgson: Brekafast in America. A seguir viria um disco ao vivo e os Supertramp nunca mais seriam os mesmos.

Em Junho, Emmylou Harris lançou a Blue Kentucky Girl, cujo interesse maior reside nos guitarristas James Burton e Albert Lee ( com Hank de Vitto na pedal steel guitar) e o som country, bem tocado e gravado, com o êxito Even cowgirls get the blues.
Ainda nesse mês saiu um disco da nova vaga inglesa, saida do punk de uns anos antes. Ian Dury e os Blockheads publicavam Do it yourself em tonalidade reggae e de música com mais de dois acordes. No mesmo tom, do outro lado do Atlântico, os Devo publicaram Duty now for the future e esses dois discos eram companhia habitual nos programas de rádio de António Sérgio.
Na mesma onda, no final do ano saiu o disco dos Specials, depois dos singles. A message to you Rudi, em dois tons: reggae e pop em formato ska. E também Too much too young e International jet set ou Ghost town. Specials é um grupo de 79, pós punk.

No Verão saíram os melhores discos: J.J. Cale e 5, mais Dire Straits e Communiqué e ainda Neil Young com Rust Never sleeps que me acordou também, à semelhança do reeling in the years, a ouvir a história de Pocahontas e Marlon Brando e o Astrodome e ainda o tepee.

Os primeiros acordes de Communiqué, foram ouvidos no rádio, como habitualmente.
Communiqué é a obra prima dos Dire Straits ex-aequo com Making Movies, do ano seguinte e que tem solid rock, um tema que passou no programa de António Sérgio com uma versão que nunca mais ouvi e que me ficou no ouvido para sempre. Seria um acetato? Um registo sonoro inédito e de promoção? Não sei e gostaria de saber onde desencantou António Sérgio tal preciosidade que na altura passou. Com a morte do mesmo não vai ser possível saber do próprio, mas há esperança nas gravações dos Dire Straits que vão saindo.

No Outono sairam Slow train coming, mais um dos cantos de cisne de Bob Dylan, com participação de Mark Knopfler ( quase imperceptível) e um tema que ouvia bem na altura: I believe in you. Saiu ainda um disco dos Electric Light Orchestra, Discovery que muito apreciava, depois de ter ouvido no ano anterior, Out of the blue e saiu também um que merecia o meu deslumbramento: Bop till you drop, de Ry Cooder.
O disco, o primeiro de música popular gravado digitalmente ( e depois convertido em analógico, com gravação ), é assombroso no trabalho de guitarra e ainda nos temas escolhidos. Seja nos instrumentais ( I think it s going to work out fine) seja nos vocais ( o tema de rythm and blues, Trouble you can fool me e principalmente o fabuloso I can´t win) o disco, apesar de nenhuma composição origina, mas apenas "covers", é um dos discos do ano. Ouvi-o vezes sem conta e sempre a pensar como soaria numa aparelhagem decente e de grau superior, tendo em conta a qualidade da gravação. Com o aparecimento do cd esperaria que a sonoridade fizesse justiça à gravação, mas a frieza do digital deixa muito a desejar, ainda. A não ser que algum dia apareça uma gravação em qualidade superior aos habituais 44.1 kHz, a 16 bits, norma corrente do cd...fico com a ideia sonora que o LP de 1979 ainda é superior.

No final do ano, para além dos Pink Floyd de The Wall, já aqui falado, apareceram os Led Zeppelin, com In through the outdoor, um outro canto de cisne; Eagles, com In the long run, idem aspas e os Talking Heads, com Fear of Music, uma música e um grupo também saídos do punk e new wave, neste caso americano.

Em retrospectiva, se tivesse que levar um só destes discos para uma ilha deserta e ouvir, hesitaria entre o de Ry Cooder e o de Neil Young. Rust never sleeps.

Entretanto, sorrateiramente, nessa altura aparecia uma sonoridade jazzística, nos indicativos de programas, editada pela etiqueta alemã ECM. Pat Metheny só se tornou conhecido na década seguinte, mas o LP American Garage, de 1979, contém um dos seus melhores temas instrumentais.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Pink Floyd, the wall


Em finais de 1979, a música popular tinha perdido mais de metade do interesse, para mim.
Durante todo esse ano, o número de discos publicados com valor que resistiu ao tempo, foi muito pequeno, relativamente a outros anos da década.

Actualmente e em retrospectiva aguentam-se como discos de referência da pop/rock, os de Supertramp, com Breakfast in America; Frank Zappa e Sheik Yerbouti, mais Joes´garage,1; Bee Gees e Spirits having flown; Roxy Music e Manifesto; Doobie Brothers e Minute by Minute; Neil Young e Rust never sleeps; JJ Cale e 5; Dire Straits e Communiqué; Ry Cooder e Bop till you drop e ELO com Discovery.

Em Novembro/Dezembro saiu The Wall, dos Pink Floyd, em disco duplo e que concitou a atenção geral dos rádios, com o single Another brick in the wall.
O disco começou a ser passado no rádio e com análise de alguns comentadores que glosavam os temas como um petisco sonoro e intelectual a saborear com calma e tempo.
Na verdade, o disco contém alguns bons temas musicais da autoria de Roger Waters, sendo considerado quase um disco a solo.
O tema de introdução, In the flesh, desenvolve-se depois pelo tema da educação, com o Another brick e o refrão "we don´t need no education..."
Logo a seguir, porém, surge o acústico Mother e acaba assim o lado um do LP.
No lado dois, um dos temas importantes, One of my turns, precedido por monólogos femininos em visita de casa, depois de passar pelo tema floydeano e favorito de concertos , Young Lust, precisamente um tema Waters/ Gilmour, com destaque para a guitarra deste.
O lado três, começa com Hey You e prosssegue com "is there anybody out there?, sussurrado em canto, a introduzir outro tema forte, Nobody Home, que termina em típica toada Pink Floyd. O lado termina com Confortably Numb, um dos picos do disco.
O último lado contém In the flesh, run like hell, outro tema de concerto e termina com The Trial.

De todas as vezes que ouço o disco, lembro-me da apreciação dos críticos da época ( João Filipe Barbosa, por exemplo) que referiam a obra como de grande densidade a suscitar estudo aturado dos temas e com digestão intelectual adequada. Tal como o fizeram com o disco dos Genesis, The Lamb lies down on Broadway, de 1975.

sábado, 28 de novembro de 2009

Procol Harum


A actual reedição dos discos dos Procol Harum, por ocasião do 40º aniversário do lançamento de A Salty Dog, é muito cuidada e o som, rematrizado, excede o das anteriores edições dos discos, em 1995.

Durante a primeira metade do ano de 1973, saiu um disco que concitou a atenção geral de quem escutava música popular na altura. O grupo, aliás, esteve em Portugal, para dois espectáculos em Cascais, com crónica na Mundo da Canção nº 35.

Grand Hotel dos Procol Harum começou a passar no rádio de então como uma canção que se ouvia em modo de sucesso. E no álbum havia outras: toujours l´amour, rum tale, souvenir of London, eram mais três e ainda Liqourice John.

O disco depois de ouvido na discoteca local ficou no ouvido como um dos grandes Lp´s de 1973 ( a par de Quadrophoenia dos The Who; Dark side of the moon dos Pink Floyd e Goodbye Yellow brick road de Elton John).
Nessa altura, alguém da turma comprou o disco e num intevalo aproveitei para passar a letra do tema principal. Assim como fica aqui, num pequeno papel amarelecido pelo tempo.


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Dream dos NGDB

Um dos discos que mais gosto, todos os géneros confundidos, é este dos Nitty Gritty Dirt Band. Dream, publicado em finais de 1975, é um dos melhores senão o melhor do grupo e assim foi escrito pela revista Rock & Folk, numa crónica de Dezembro de 1975, aqui fotografada, assinada por Claude Alvarez-Pereyre e que começa assim:

(...) "a uma introdução etérea e planante sucede um instrumental do grupo, um bom e velho reel, tendo em particular um soberbo solo de guitarra acústica ( poderia ser uma Gibson, com o som ao mesmo tempo seco e muito doce). "
A revista Rolling Stone da mesma altura, 6 de Novembro de 1975, arrasava o disco, fazendo pouco da capa interior em que se proclamava que o grupo dominava "todos os estilos de música". A crónica de Ed Ward terminava dizendo que "jack of all trade, master of none", para resumir o disco. Não se percebe esta crítica, vinda ainda por cima de um americano, sobre um grupo americano.

Ainda assim, este Dream, dos Nitty Gritty Dirt Band, passou algumas vezes no rádio, de 1975/76 em programas de Jaime Fernandes e Jaime Lopes, à noite.
Lembro-me de ouvir e gravar, ficando para sempre na memória a diversidade dos estilos musicais e a beleza das músicas, sem excepção. É um daqueles discos que se ouve do princípio ao fim, sem intervalos de gosto menos que excelente, por causa do alinhamento dos temas que mistura canções com temas acústicos instrumentais, muito sóbrios e de estilo diversificado que se fazem valer pelo virtuosismo dos elementos do grupo, com destaque para John McEuen.
Destaca-se em particular, um composição do célebre tema All you have to do is dream, de D. Bryant e interpretado por muitos artistas, com relevo para Doc Watson, Leo Kottke e Everly Brothers, por exemplo entre outros.
Ripplin Waters é um tema de Jim Ibbotson, um elemento do grupo e que concita a atenção pela delicadeza da composição acompanhada a bandolim. Joshua come home, igualmente de Ibotson, é outra pequena maravilha e a composição final é um tema instrumental repescado de um disco antigo em metal e que tocava automaticamente nos bares, como ainda hoje se pode ouvir em pequenos cilindros pré-formatados em relevo.

A apresentação gráfica do disco, em LP é outro ponto alto, com uma capa a apresentar um desses discos antigos e que se desdobra para recortar meia capa por cima, como se pode ver na imagem.
A apresentação dos cd´s não consegue o mesmo efeito, sendo certo que dos dois que se publicaram- um da BGO Records, inglesa e que desbota as cores quentes originais do castanho do disco e outro da Capitol-United Artists ( etiqueta original americana), com melhor tonalidade gráfica ( na imagem), mas ainda assim longe do toque do cartão do vinil original.
O som, esse nem se fala. Ouve-se e em vinilo é mais perfeito e adequado ao que me lembro de ouvir no rádio mono de então...



Pormenor da capa do LP, muito próxima da cor real ( a redução do tamanho em bits limita a definição mais perfeita, porque a cor real é um pouco mais escura no castanho e dourada na imagem espelhada) , mas ainda assim, insuficiente para mostrar toda a beleza gráfica do cartão usado e impressão da imagem, com tonalidades mate, dignas de figurar num lugar cimeiro entre as melhores capas de discos de música popular. A ampliação da imagem permite ainda uma melhor visualização que no objecto real, suscita uma atenção demorada ao pormenor da cor e subtileza da variação no título e imagem inscrita na imagem.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Tubular bells

Em 1974/75, o programa de rádio Página Um, passava de vez em quando música instrumental em pequenos trechos, sempre interessantes.

Um dos instrumentais que passava em 75 era do álbum Artistry de Eumir Deodato, um brasileiro radicado nos USA.

Porém, os instrumentais na música popular, começaram bem antes a ser interessantes. Pelo menos desde Spanish Flea, de Herb Alpert e a Tijuana Brass, de 1966; Albatross, de Fleetwood Mac, de 1969 e Sylvia, dos Focus, de 1973.

Precisamente em 1973, apareceu um disco instrumental que provocou uma onda de interesse, em primeiro lugar na Inglaterra e depois um pouco por todo o lado.

Mike Oldfield, com vinte anos, gravou quase toda a música de Tubular Bells, tocada por si e o disco foi um sucesso da pop/rock que ainda hoje se ouve muito bem. Os diversos temas, todos instrumentais, encontram o seu pico sonoro na estrutura de Harmonics, o 12º tema do disco

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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O meu pai

O meu pai faleceu na passada Sexta-Feira. Estava doente, respirava mal e padecia de obstrução respiratória crónica que o atormentava há alguns anos a esta parte.
Segundo o médico que o via regularmente, a doença crónica, devia-se aos muitos cigarros que fumou.
Lembro-me que fumava Português Suave, e na foto acima, tirada no início dos anos sessenta, tem um cigarro nos dedos. Imediatamente atrás, estou eu, de mão no bolso e a observar atentamente as manobras do meu tio Manuel ( já falecido também, há meses) e do meu primo também Manuel, senhor da situação e ao lado de um motor de rega, em cima de um carro de bois, numa casa de lavoura como era a dos meus avós maternos. Ainda ontem lá estive, precisamente naquele local, para falar com o meu primo.
Esta foto simboliza a minha infância, antes de entrar para a escola primária e representa a minha posição perante o meu pai: ao lado, mas atento ao que o rodeava..

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A primeira Métal

O primeiro número da revista, tal como anunciado na contra-capa da Rock & Folk de Março de 1975. Ao lado o número de Fevereiro da mesma revista, onde se anunciava, num reclame desenhado por Moebius.
O primeiro número da Metal Hurlant, saído em Fevereiro de 1975, só mais de trinta anos depois, chegou à estante e por causa da ebay.
Mas valeu a pena, porque era um acontecimento que se prolongou durante esses anos.

As duas primeiras páginas:

domingo, 25 de outubro de 2009

Jornais e revistas de 1974 e 75. Música e outras.



Alguns jornais e revistas de música e entertainment de 1974-1975. A Playboy é de Novembro de 1974. Para além dos artigos, o sumário, com as fotos dos colaboradores e um anúncio a uma revista- AvantGarde-faziam parte das 250 páginas que continham nesse mês uma revisão fotográfica sobre o "sexo no cinema", em 1974. Filmes como "Deep Throat" o muito falado e que deu a alcunha à fonte do Washington Post, no caso Watergate e que nunca vi ( nem no You Tube...), mas também Serpico, O Exorcista, O Porteiro da Noite, ou Blazing Saddles, de Mel Brooks.
A entrevista de fundo é a Hunter Thompson, o arauto do novo jornalismo que dizia assim, sobre os políticos:

"Em Washington a verdade nunca se diz durante o dia ou à secretária. Se apanharem as pessoas quando estão cansadas ou bêbadas e fracas, podem arranjar-se algumas respostas. É preciso desgastar os bastardos primeiro."



Pilote-Metal, a transição

Antes de chegar à vista da Metal Hurlant, o que aconteceu apenas no Verão de 1976, já em Junho de 1974, na Bertrand de Lisboa, tinha comprado os volumes 65 e 66 de recolha da revista Pilote, encadernados e que traziam nove números da revista do ano de 1973. Pouco depois, arranjei o volume 70 da mesma revista.

Esses dois primeiros volumes traziam duas histórias célebres, das melhores que a bd jamais teve para mostrar: uma, traduzindo uma viagem onírica de Jean Giraud e família, intitulada La Déviation e que anuncia a transição do estilo do autor, do realismo de Blueberry, para a ficção científica; e outra de Tardi, com Adieu Brindavoine, em ambiente exótico e a prenunciar o advento da I guerra mundial. A par de ambas, a revista publicava ainda a história de Gir, de BLueberry, L´outlaw.
No volume 70, na continuidade destas duas histórias, os mesmos autores assinavam uma ,com o título L´homme est-il bon?, de Gir; e outra, de Tardi, com o título La Fleur au fusil.







Métal Hurlant

Anúncio na Rock & Folk de Maio 1976

Na transição das leituras da Pilote de 1974, para a Métal Hurlant do início do ano seguinte, um hiato se formou por um motivo prosaico: esta última revista não chegava cá, a Portugal, nessa altura. Possivelmente por causa da distribuição e por ser proveniente de uma editora "independente" das tradicionais da bd da época: a Humanöides Associés.
Assim, apenas podia entrever a revista através de outras revistas, designadamente a Rock & Folk e a Best, que a publicitavam nas páginas dedicadas à banda desenhada, as Comix e em publicidades dedicadas. Mas sempre a preto e branco.
Portanto, até ao Verão de 1976, não tive ocasião de ver a revista ao vivo e a cores, o que se tornou motivo de curiosidade acrescida, porque as apreciações críticas traziam sempre grandes encómios à qualidade gráfica e ao conteúdo.

Por ocasião do número 6, do segundo trimestre de 1976, a vista da capa, mesmo a preto e branco, deixou-me ainda mais ansioso por ler a revista: trazia um desenho de Moebius, no estilo de Gir.
E nesse Verão, pedi a um amigo que foi a Paris para me comprar esse número 6. Mas já não o encontrou à venda nos quiosques. Trouxe o número 7, com capa célebre de Robial, num estilo que seria copiado dali a alguns anos, pelo marca italiana Fiorucci...
























quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Pilote, nova fórmula.

Os primeiros seis números da nova série, iniciada em Junho de 1974, da revista francesa Pilote.

Em pleno Verão de 1974, no mesmo local que anteriormente, a revista Pilote aparecia modificada. Mais pequena e com uma capa que prometia uma calçada de boas rubricas ( um pavé de bonnes rubriques).
Entre os desenhos dos paralelos, num deles, lá estava Giraud...e por isso lá voltou o desejo de ler outra vez a revista. Desta vez, ainda mais cara, a 45$00, numa época que em Portugal juntava a inflação à carência de divisas que tornava o escudo cada vez mais desvalorizado.
Porém, a periodicidade passara de semanal a mensal o que equilibrava.

Logo no primeiro número dessa nova série, e no seguinte, uma página inteira, mais duas, de desenhos de Gir-Jean Giraud, ainda com esse nome com que assinava os westerns, mas por pouco tempo. Dali a meses, surgiria o heterónimo Moebius e uma nova aventura- A Métal Hurlant, a melhor revista de banda desenhada franco-belga que jamais existiu depois da época dourada dessa expressão artística.

A Métal Hurlant, surgiu nos primeiros meses de 1975, nunca se vendeu em Portugal, pela distribuição normal, porque a revista também não era produzida de modo corrente. Era uma revista fundada por dois ou três desenhadores a que se juntou um empresário e um visionário e que fundaram ainda uma editora: a Humanoides Associés.
Entre os desenhadores, Moebius-Giraud, Druillet e o visionário Dionnet. Durou até final dos anos oitenta e marcou uma época artística na bd. Motto da revista: La machine à rêver.
E, de facto, on rêve, bien sur. Estamos já muito, muito longe das aventuras do Tintin ou mesmo da Pilote,da primeira fase. Veremos a seguir como foi a aventura do metal que grita.

Duas páginas de Gir, na Pilote nº 1 e 3, nova série, em transição para a temática de ficção científica que seria o prato forte da revista Métal Hurlant.


A Pilote de 1974


Depois de comprar o número 745, da Pilote, voltei a comprar o seguinte e...nada de Giraud ou dos artistas que esperava encontrar. Fiquei desiludido e ainda por cima a revista era demasiado cara para a época. Basta dizer que o Tintin português, na época, custava 10$00, quase três vezes menos!
No entanto, no número 749, de 14.3.1974, aparecia um número especial dedicado à ficção científica em que vinham duas páginas com desenhos de Jean Giraud, de temas até aí desconhecidos ao artista. Temas galácticos, de pura fantasia heróica, de naves espaciais e um personagem que mais tarde daria que falar em desenhos: o major Grubert. Tudo isso nas duas páginas que se podem ver na foto acima.
No número anterior, já aparecera pela primeira vez um autor desconhecido com desenhos fantásticos e de elevado teor artístico: Druillet, com um episódio da saga de ficção científica começada antes e que era revelada nesse número como uma continuação.
Começou aí, nesses mesmos números, uma nova fase de interesse na banda desenhada que ultrapassava as historietas realistas de cóbóis ou aventuras exóticas. A ficção científica e a latere, a chamada banda desenhada para adultos, com histórias de teor mais complexo e rebuscado, passaram a ser um motivo de interesse suplementar para a leitura. No n

Portanto, com o número 753, da semana do 25 de Abril de 1974, suspendi a compra da Pilote que era um luxo caro, numa época em que as revistas de interesse geral versavam sobre a política em Portugal, o que acontecia com os jornais, a revista Vida Mundial e até as revistas estrangeiras.
Mas a suspensão da Pilote não foi por muito tempo.

Jornais e revistas de 1974

Por ocasião do 25 de Abril de 1974, uma das coisas que mais me interessava era a banda desenhada, a par dos assuntos de política geral. Mais do que a música popular cujo interesse intensivo e alargado só começou meses depois.

A revista Tintin, nas versões portuguesa e mesmo a original belga que me interessaram desde 1972, em 1974 ainda mantinha a qualidade original. Nessa altura publicava histórias de Clifton ( Degroot), Lucky Luke ( O caçador de Prémios, uma das melhores histórias da saga), Asterix ( O Adivinho, idem) Bernard Prince ( Hermann), mas estava já na fase terminal da época de ouro. No final do ano, perdia o interesse, porque entretanto, aconteceram coisas que modificaram o gosto de então. Em 1975 já não comprava a Tintin portuguesa. Nem a belga também. Depois disso, em 1976 e 1977, meia dúzia de números se tanto. E assim acabou o Tintin em revista, para mim.
Os autores franceses que me tinham levado a esse interesse acrescido, no início dos anos setenta,- Giraud, Hermann, William Vance, Jacques Martin, Godard, Morris, Uderzo,- entre outros, tinham deixado de apresentar com a regularidade de anos anteriores os seus trabalhos desenhados.
Particularmente Jean Giraud, o autor de Blueberry e cujas aventuras apareceram no Tintin português, por via de acordo de publicação com a Pilote francesa. Embora durante o ano de 1974 o Tintin português ainda publicasse A pista dos Sioux, a história era antiga, de 1971 e nessa altura, Giraud estava já noutra via que pouco depois se revelaria uma novidade de vulto.
Até então, o tipo de desenho, as aventuras de cóbois e a estrutura narrativa, com combóios, índios, paisagens do farwest do tempo da guerra de secessão e sucessivas querelas, despertaram a atenção para a leitura dessas histórias que já tinha aparecido anos antes e ainda voltariam a aparecer, precisamente no original Pilote, que por cá não se vendia como o Tintin.

O primeiro número dessa revista francesa que por cá apareceu à venda, através da distribuidora Bertrand, foi o 745, de 14.2.1974.
Logo que vi esse número no escaparate da porta de entrada da livraria ( que ainda existe com o mesmo nome e local), fiquei espantado de emoção.
Aquela revista que apenas entrevira em citações na revista Tintin portuguesa estava ali...e custava 27$50, uma pequena fortuna para uma revista de banda desenhada. Mas teve que ser e lá foram as poupanças da semana. E na semana seguinte, idem. E depois e ainda depois, até chegar ao nº 753 de 11.4.1974. Tendo em conta a décalage ( francesismo a preceito) na distribuição, é provável que esse número tenha sido comprado na semana do 25 de Abril de 1974.
Nessa altura, o meu interesse na revista cingia-se a voltar a ver histórias de Jean Giraud, de Blueberry.
Mas tal não aconteceu, por motivos que se contam a seguir.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

National Lampoon


A revista National Lampoon aparecia em Portugal em 1974 como uma das revistas americanas que mais apetecia ler. Por causa dos textos humorísticos, cáusticos e por causa do arranjo gráfico que combinava desenho, ilustração, mais algumas páginas centrais com "comics", de teor surrealista, delirante ou apenas cómico e realista.
A par disso, entremeava as páginas com publicidade a discos, aparelhagem de som e imagem, etc.
Só por causa desta publicidade valia a pena comprar a revista, porque não se via noutro lado, a não ser na Rolling Stone ou Crawdaddy e mesmo assim em modo mais comedido.

Nessa altura, as imagens desse tipo contavam. Ver a imagem de um disco novo de um grupo ou artista que interessavam era uma novidade que levava a comprar a revista. Os desenhos nas páginas centrais, em papel de jornal, a contrastar com a cor e textura do couché, também a tornava original.
O primeiro número que comprei, foi em Junho de 1974 e nesse ano e seguinte, estão aqui alguns números, alguns deles com capas politicamente incorrectas como já não se usa mais.

Capa dos Grateful Dead


O disco que fica em capa, só o conheci alguns anos depois de ter visto a publicidade numa revista americana, a National Lampoon de Outubro de 1975, uma época épica no Portugal de então, em PREC que soçobrou no mês seguinte, altura em que a revista por cá apareceu.

O grupo da capa é o Grateful Dead, cuja música nem conhecia, mas a publicidade de página inteira, com um disco de Blues for Allah, seria hoje manifestamente improvável na sociedade americana.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Nitty Gritty Dirt Band em triplo



Outro grupo americano que publicou discos nos anos setenta a merecerem atenção, incluindo nas capas, foi o Nitty Gritty Dirt Band de Jeff Hanna e John McEwen.
Em 1976, um triplo LP, com o título Dirt Silver and Gold, recolhendo o melhor do grupo até então, tinha esta capa estendida, desdobrável em três lados e que simulava um cofre antigo, decorado em fin de siècle. Grande disco, grande capa.

O álbum branco dos Chicago



Os Chicago, depois de terem publicado três LP´s duplos, entre 1969 e 1971, alugaram o Carnegie Hall em Nova York, durante uma semana a fio e gravaram um quádruplo LP, reunindo em duas horas de música continuada, o melhor que tinham para mostrar.

Os discos, em quatro LP´s, vinham acondicionados numa caixa que contém ainda um poster gigante do grupo em actuação, com 120x180, dobrado em sucessivas camadas para caber na caixa, mais um poster de 100x50, com imagens dos elementos do grupo e ainda mais outro da mesma dimensão que mostra o exterior do Carnegie Hall. Ainda tem um libreto com fotos e datas dos concertos da época.

O álbum foi gravado entre 5 e 10 de Abril de 1971 e apesar de alguma deficiência na captação do som pelos standards mais elevados ( particularmente nos metais e vozes, devido à má acustica da sala) a música é excelente e ouve-se com particular agrado.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Capas e contra-capas



O disco Stand up, dos Jethro Tull, faz agora 40 anos. Em Outubro de 1969, a revista Rock & Folk publicou este anúncio ao disco, com recomendação acerca da sua natureza de revelação do ano, sendo avant-garde da música pop e underground!

O disco abria em álbum e no interior surgiam as figuras recortadas dos músicos que se levantavam em "stand up", conforme se verifica na imagem.


O papel das revistas




Nas revistas de banda desenhada franco-belga, em 1972, por altura da publicação do disco Exile on main street, dos Rolling Stones, havia o Tintin, edição portuguesa que publicava originais das revista Pilote, francesa e a original Tintin, belga.
Em Agosto de 1972, as edições portuguesa e belga eram estas que se apresentam e cuja diferença gráfica é de monta.
A revista portuguesa tinha um papel quase semelhante ao de jornal, poroso, um pouco pardo e com nenhum brilho. A edição belga, pelo contrário, brilhava no papel de revista lustroso e em cada nova edição parecia estar a sair das rotativas com a tinta ainda fresca. O efeito gráfico era fantástico por vezes, apresentando imagens de um grafismo que os álbuns, depois, não conseguiam repor na sua integralidade brilhante.

O exemplo que se apresenta da revista Tintin, edição belga, de Agosto de 1972, mostra duas páginas de uma aventura de Martin Milan, desenhado por Godard e cuja tonalidade do verde marinho aqui ligeiramente afinada na segunda página, através do scanner, mostra uma subtileza cromática que dificilmente se conseguiria no álbum cartonado.
Mesmo assin, a imagem que se publica não consegue captar toda o brilho daquela que está publicada na revista, por limitações deste meio informático em pixeis.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Joe Walsh em capa de disco

Este Lp de Joe Walsh, So What, de 1974, contém Turn to Stone, Help me through the night e outras com interesse.
Turn to stone, passava regularmente no programa Página Um, da Rádio Renascença de então.
A capa do disco, original da ABC records americana, releva o nome do músico e do álbum em prensagem tridimensional que se percorre com os dedos notando o efeito de relevo real do grafismo. Na foto não se nota, mas o efeito é...de relevo.

O som de Joe Walsh, que depois ( em 1976) integrou os Eagles, neste disco e principalmente num outro seguinte, But seriously folks, de 1978, é de guitarra eléctrica, misturada com tonalidades de guitarra acústica, gravados em luxo sonoro, por Bill Szymczyk, do Record Plant de Los Angeles. O som é exhilarating, como dizem em americano.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Mais capas de discos


Outro disco de prensagem americana e que apresenta as características típicas do cartão e do grafismo, é este, de Gene Parsons, Kindling, de 1973 e que contém um êxito da altura, Monument. O tema integralmente tocado por Gene Parsons, nos instrumentos usados, lembra o antigo grupo de Parsons, os Byrds. E projecta o que viria a seguir, nos Flying Burrito Brothers.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Capas de discos

Havia algo nos discos antigos, em LP, que os tornavam objectos de culto suplementar para além da música que continham. A imagem gráfica das capas era um elemento suplementar de interesse e que permitiam coleccionar os LP´s como obras de arte gráfica de formato suficientemente apelativo para se guardarem como tal.

Para além disso, alguns discos ainda tinham um apelo particular no tipo de cartão que usavam, particularmente os de origem norte-americana. Um cartão mais grosso que os demais, de cor um pouco mais escura que o habitual e cheiro a papelão prensado, num odor particular que atestava a origem.

Para além disso, a impressão da imagem gráfica da capa, normalmente, nesses discos, tinha uma qualidade superior à de outras prensagens.

Há vários discos que juntam estas características. Um deles, é este, ainda com o celofane que o envolvia. É uma reedição americana, de 1977, da Liberty Records ( odisco original de 1976, é da United Artists) do disco Lonesome Road, de Doc Watson, comprado na FNAC francesa, em 1982:


Cavaleiro Andante



Clicar para ampliar.

A revista Cavaleiro Andante, em Dezembro de 1956 já ia no seu 258 número. Dirigida por Adolfo Simões Müller e editada por M. Nunes de Carvalho, era impressa nas oficinas gráficas do Anuário de Portugal, numa qualidade que aqui pode ser revista, nestas seis páginas desse mesmo número de 8.12.1956.

As duas páginas do meio revelam uma história de Blake & Mortimer, de Edgar-Pierre Jacobs. A outra é de Joseph Gillain, conhecido como Jijé e inspirador de vários autores franco-belgas de banda desenhada, como Jean Giraud, aliás, Moebius.

A tradução das filactérias revela ainda outra coisa: o cuidado e rigor no uso da linguagem em português. Para entender melhor o que quero dizer, basta comparar a mesma página, traduzida em 1956, com outra de um álbum da mesma aventura, de agora.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Beatles: as novas matrizes dos discos



Na revista inglesa Sound on Sound deste mês, um artigo sobre as novas edições da discografia dos Beatles explica os detalhes técnicos da rematrização.

A equipa, sete elementos acima retratados, começou assim:

Em primeiro lugar experimentaram vários equipamentos para reprodução das fitas originais e escolheram um Studer A80. Nunca consideraram seriamente a utilização do gravador original, um aparelho EMI, o British Tape Recorder, acima retratado na imagem a preto e branco, e que não se encontra actualmente no melhor estado de uso. Segundo os técnicos, as fitas originais das gravações dos Beatles, encontram-se em muito bom estado, mesmo as fitas com a gravação em mono que não teriam sido usadas em 40 anos e que partiam com alguma frequência exigindo cuidado acrescido.
A transferência do som analógico da fita original, para o digital, fez-se com o cuidado exigido a cada uma das canções

Para transferirem o som analógico provindo da leitura da fita realizada pelo Studer A80, usaram um conversor analógico/digital, Prism, ADA-8XR, cuja imagem é esta, em baixo à direita e que permite gravar em formato digital com 16 canais e numa conversão de 24 bits, com frequência de amostragem de 192kHz.



















A interface digital para estas operações, foi o programa ProTools HD.
Para reduzir o ruído, equilibrando o som, usaram aparelhos da Cedar Cambridge, na imagem. abaixo , à esquerda. Para equalização e limitação do sinal analógico, usaram mesas de mistura EMI TG console, de 1972 ( semelhante à da imagem da direita em baixo e que serviu para tratar o som da Antologia dos mesmos Beatles) e utilizaram ainda limitadores/ compressores do sinal digital da marca Jünger DO2 e Maselec MEA-2
Só depois disso transferiram o som para o cd. Em 16 bits/44.1kHz, mesmo assim...o que deixa a desejar ouvir em 24/192, num futuro próximo em formato blu-ray.
Segundo indicam os técnicos - Guy Massey, em particular- tiveram acesso às notas de trabalho de realização dos LP´s originais e obviamente aos discos originais que lhes permitiram perceber a existência de cortes e limitação nas baixas frequências para "caberem" nos discos de vinil. Outro pormenor reside no intervalo das canções. Nos discos, tornou-se obrigatório nessa altura, manter intervalos de seis segundos, o que é uma eternidade nos tempos que correm. Assim, reduziram esse tempo nas rematrizes em estéreo ( reduziram ainda mais um pouco que as reduções já feitas nas regravações dos anos oitenta) e mantiveram na mesma, nas mono, os seus segundos.



quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Os posters psicadélicos de Avedon

Look


John Lennon, por Richard Avedon, na revista americana Look, de Janeiro de 1968.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Os Beatles- como conheci a sua música
























As primeiras imagens sobre os Beatles que guardei, foram estas, por ordem da esquerda para a direita e de cima para baixo. Do jornal Diário Popular, da Flama, da revista Mundo Moderno e de uma brasileira, provavelmente a Cruzeiro. Em 1970 ou pouco tempo antes disso.

























A que segue foi tirada dum número de Agosto de 1972, da revista Observador, consagrado ao fenómeno da pop ( Indústria ou evasão?, perguntava a revista). Na imagem da direita Dinis de Abreu a dizer que não havia pop em Portugal ( pode ler-se clicando).

Esta é a capa da revista alemã Pop de Junho de 1974, uma revista em que as imagens e os posters ( farb) eram o apelativo principal. Além disso, o papel lustroso, alemão, era de qualidade superior o que conferia cor notável às fotos.

As duas imagens seguintes reportam as capas da revista Rock & Folk de Novembro de 1976 e de Janeiro de 1983. Foi com esse número de 1976 que fiquei a conhecer pela primeira vez a discografia integral dos Beatles...em versão francesa. Durante vários anos, a referência aos títulos avulsos dos discos dos Beatles foi esta.


























Não me lembro da primeira vez que ouvi música dos Beatles. Com o tempo, as memórias cruzam o espaço dos discos e dos sons no final dos anos sessenta para assentar numa confusão de temas da época em que os Beatles eram apenas um grupo musical, porventura o mais conhecido. Seria Penny Lane? All you need is love? Terei ouvido antes, I want to hold your hand?

Entre todas as ocasiões, a que surge naturalmente é a que se associa a Yellow Submarine, aparecida em Revolver, saído no Verão de 1966, depois retomada na banda sonora do filme com o mesmo nome, lançado no Verão de 1968. Talvez All you need is love, mereça igual distinção, por ter saído no intervalo de ambos, em 1967, através de um programa de tv retransmitido para o mundo, por satélite.

Tudo considerado, o LP Sgt Peppers, nessa altura, 1967, nada me dizia. Algumas canções do grupo, sim. Penny Lane, por exemplo e que também saiu em Magical Mystery Tour.

Quando o célebre álbum branco saiu em 1968, não tomei nota mental e nem me lembro de ouvir canções desse disco, a não ser o indefectível Ob la di, Ob la da, essa sim, bem presente na memória da época. Como ficou Hey Jude, lançado em single na mesma altura.

Portanto, foi apenas em 1969 que descobri os Beatles como grupo com álbuns de canções e não apenas singles. Quarenta anos depois, lembro-me de algumas canções de Abbey Road, como Come together e Oh Darling e ainda Something; sem esquecer Don´t let me down, saída em single na Primavera de 1969.

A audição de música, nessa época, relevava mais de singles do que de álbuns e mais do rádio do que do gira-discos. Só com a leitura da música através de jornais e revistas descobri o interesse em saber mais sobre os Beatles e no ano seguinte, por altura da separação do grupo, já se tornara importante ler artigos sobre os Beatles e a sua música.

Mesmo assim, o álbum Let it be, último a sair da discografia dos Beatles, valeu como ícone e como objecto de culto por causa da capa elaborada numa caixa, com um livro de luxo e imagens a condizer que me lembro de mirar e remirar numa discoteca da época, apresentado como um objecto de luxo e caro por isso mesmo.
A música, no entanto, nem por isso. Desse disco, recordo o óbvio Let it be, The long and winding road e talvez Across the universe, se a memória não me trai. No entanto, foi a partir desta altura que os Beatles começaram a representar algo mais do que a música: um modo de olhar para um mundo a mudar.

O tema Two of us, por exemplo, só muito mais tarde, vários anos depois, em meados da década de setenta, descobri, por audição numa rádio espanhola, a Radio Popular de Vigo, sítio onde sintonizei muitas canções e músicas nos anos setenta.

A audição dessa canção, revelou-se uma descoberta da outra música dos Beatles, publicada nos vários álbuns que nunca ouvira integralmente até então, ou seja quase todos.

Em meados dos anos setenta, em Coimbra, passou no cinema Gil Vicente o filme Yellow Submarine. Descoberta! Algumas das canções, por força das letras traduzidas tomaram outro sentido, como Hey Bulldog ou It´s all too much. Mesmo All you need is love assumiu toada diferente com esse filme.

Em 1976, a revista francesa Rock & Folk publicou uma extensa reportagem por ocasião dos 10º aniversário da revista.

Esse artigo extenso, de 50 páginas, incluindo cronologia, com discografia crítica, capas dos discos ( edição francesa), indicação das canções de cada um bem como entrevistas com os músicos, constitui ao longo dos anos, a bíblia particular sobre as músicas dos Beatles.

Em Abril de 1970 o grupo separou-se e no ano seguinte, o jornal Disco, música & moda, publicava na sua primeira página um artigo sobre os Beatles a solo.

Nessa altura, a composição de George Harrison, My sweet lord, estava em primeiro lugar na listas de venda de discos. Mother, de John Lennon, seguia um pouco mais atrás e Beaucoup of blues, de Ringo Starr também arrajava lugar na lista. Apenas Another Day de Paul McCartney, não figurava em lugar explícito.


Ainda em Abril de 1970, a revista Mundo da Canção, no primeiro número que comprei, o 6, trazia a letra de Eleanor Rigby, Honey Pie e Octopus´s garden( de Revolver, do Branco e de Abbey Road). Nos números seguintes, a mesma revista, a única que valia a pena ler sobre música popular, na época ( o jornal Disco, música & moda só saiu em Fevereiro do ano seguinte), publicou as letras de Revolution 1 e Yesterday ( Branco e Help); Here comes the sun, One after 909 e Dig a Pony ( Abbey Road e Let it be, com imagem da capa deste último a preto e branco, apareceram no número 8 de Julho de 1970, imagem que se repetiu na capa do número seguinte em tom de amarelo e azul e no qual se publicaram as letras de The long and winding road e Two of us e ainda Yellow Submarine e Birthday, da banda sonora com o mesmo nome e do Branco; nesse número nem uma referência à separação dos Beatles. No número seguinte, as letras de Piggies e Help, For you Blue e I me mine ( Branco e banda sonora com o mesmo nome e ainda Let it be); no número 11, as letras de I want you ( she´s so heavy), You never gave your money, de Abbey road e Across the Universe e I got a feeling, de Let it be e no seguinte, She came through the bathroom window e Mean mr. Mustard, de Abbey Road. A primeira vez que aparece uma referência á separação dos Beatles é no número13, de 15.12.1970, num artigo interessante assinado por...José Cid que achava “ o desaparecimento dos Beatles uma lacuna que fica para sempre na Pop Music.”

Em 1973, com a publicação de duas recolhas antológicas ( a vermelha 1962-1966 e a azul 1967-1970) provavelmente retomaram-se nos rádios os temas já antigos, cuja audição não fixei nem me interessavam particularmente, mas não passaram despercebidas porque a notoriedade dos Beatles sempre se impôs nos media e dificilmente deixavam de se ouvir no rádio.

Os Beatles, enquanto grupo cuja discografia integral me interessou conhecer, apenas surgiu em finais dos anos setenta, precisamente com a publicação dos LP´s, em Portugal, pela Valentim de Carvalho, por ocasião do centenário da casa, que ocorreu em 1977 e cuja publicação se prolongou nos anos seguintes.

A canção que me despertou para a descoberta foi Two of us, de Let it Be, primeiro no rádio e depois, logo em 1981, com a audição dos discos LP em condições de fidelidade mais elevada. Depois, na mesma altura, voltei a redescobrir a beleza intemporal e mais antiga de For no one e You ve got to hide your love away ou In my life. For no one já fora uma canção que me impressionara durante o ano de 1977 ao ponto de a cantarolar frequentemente nessa altura, talvez porque era de uma tristeza premonitória.

Para além disso, nos anos setenta, a música dos Beatles confundia-se em certa medida com a música de cada um dos seus membros.

Primeiro, com George Harrison e John Lennon e depois com Paul McCartney, numa série de discos com destaque para London Town, de 1978.

Entre 1973 e 1978 mediaram cinco anos em que tomei conta da maior parte dos grandes discos da música rock, alguns deles em directo, no rádio e à medida que iam sendo publicados. A toada musical desses anos, a mais rica que jamais frequentei e experimentei, deram-me uma visão e audição relativa das músicas dos Beatles.

Por outro lado, durante essa primeira metade da década, os discos a solo de cada um dos Beatles, saíam a um ritmo impressionante, tal como a sua posição nas tabelas de charts anglo-saxónicos. A tal ponto que chegava a ler em jornais determinados singles que estavam em primeiro lugar nas vendas na Inglaterra e que ainda nem tinha ouvido por cá. O exemplo mais flagrante é Uncle Albert/Admiral Halsey, de Paul McCartney, saído em 1971 e que só escutei anos depois.

Com o advento do cd, em meados da década de oitenta, eventualmente foram publicados os discos dos Beatles, em 1987. Numa caixa com portinhola de correr, de cor escura, vinham todos acondicionados na nova tecnologia. Comprei na altura Abbey Road, como experiência, por 2 800$00, preço de capa. E Let it be, o que contém Two of us que para mim é uma música do inicio dos anos oitenta.

Na contracapa do cd diz que o disco foi "digitally re-mastered", pela EMI. Segundo se anuncia agora, em 2009, a EMI anuncia que o foi, com deficiências inerentes à técnica da época...e agora é que é.

Será?