quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Os Beatles- como conheci a sua música
























As primeiras imagens sobre os Beatles que guardei, foram estas, por ordem da esquerda para a direita e de cima para baixo. Do jornal Diário Popular, da Flama, da revista Mundo Moderno e de uma brasileira, provavelmente a Cruzeiro. Em 1970 ou pouco tempo antes disso.

























A que segue foi tirada dum número de Agosto de 1972, da revista Observador, consagrado ao fenómeno da pop ( Indústria ou evasão?, perguntava a revista). Na imagem da direita Dinis de Abreu a dizer que não havia pop em Portugal ( pode ler-se clicando).

Esta é a capa da revista alemã Pop de Junho de 1974, uma revista em que as imagens e os posters ( farb) eram o apelativo principal. Além disso, o papel lustroso, alemão, era de qualidade superior o que conferia cor notável às fotos.

As duas imagens seguintes reportam as capas da revista Rock & Folk de Novembro de 1976 e de Janeiro de 1983. Foi com esse número de 1976 que fiquei a conhecer pela primeira vez a discografia integral dos Beatles...em versão francesa. Durante vários anos, a referência aos títulos avulsos dos discos dos Beatles foi esta.


























Não me lembro da primeira vez que ouvi música dos Beatles. Com o tempo, as memórias cruzam o espaço dos discos e dos sons no final dos anos sessenta para assentar numa confusão de temas da época em que os Beatles eram apenas um grupo musical, porventura o mais conhecido. Seria Penny Lane? All you need is love? Terei ouvido antes, I want to hold your hand?

Entre todas as ocasiões, a que surge naturalmente é a que se associa a Yellow Submarine, aparecida em Revolver, saído no Verão de 1966, depois retomada na banda sonora do filme com o mesmo nome, lançado no Verão de 1968. Talvez All you need is love, mereça igual distinção, por ter saído no intervalo de ambos, em 1967, através de um programa de tv retransmitido para o mundo, por satélite.

Tudo considerado, o LP Sgt Peppers, nessa altura, 1967, nada me dizia. Algumas canções do grupo, sim. Penny Lane, por exemplo e que também saiu em Magical Mystery Tour.

Quando o célebre álbum branco saiu em 1968, não tomei nota mental e nem me lembro de ouvir canções desse disco, a não ser o indefectível Ob la di, Ob la da, essa sim, bem presente na memória da época. Como ficou Hey Jude, lançado em single na mesma altura.

Portanto, foi apenas em 1969 que descobri os Beatles como grupo com álbuns de canções e não apenas singles. Quarenta anos depois, lembro-me de algumas canções de Abbey Road, como Come together e Oh Darling e ainda Something; sem esquecer Don´t let me down, saída em single na Primavera de 1969.

A audição de música, nessa época, relevava mais de singles do que de álbuns e mais do rádio do que do gira-discos. Só com a leitura da música através de jornais e revistas descobri o interesse em saber mais sobre os Beatles e no ano seguinte, por altura da separação do grupo, já se tornara importante ler artigos sobre os Beatles e a sua música.

Mesmo assim, o álbum Let it be, último a sair da discografia dos Beatles, valeu como ícone e como objecto de culto por causa da capa elaborada numa caixa, com um livro de luxo e imagens a condizer que me lembro de mirar e remirar numa discoteca da época, apresentado como um objecto de luxo e caro por isso mesmo.
A música, no entanto, nem por isso. Desse disco, recordo o óbvio Let it be, The long and winding road e talvez Across the universe, se a memória não me trai. No entanto, foi a partir desta altura que os Beatles começaram a representar algo mais do que a música: um modo de olhar para um mundo a mudar.

O tema Two of us, por exemplo, só muito mais tarde, vários anos depois, em meados da década de setenta, descobri, por audição numa rádio espanhola, a Radio Popular de Vigo, sítio onde sintonizei muitas canções e músicas nos anos setenta.

A audição dessa canção, revelou-se uma descoberta da outra música dos Beatles, publicada nos vários álbuns que nunca ouvira integralmente até então, ou seja quase todos.

Em meados dos anos setenta, em Coimbra, passou no cinema Gil Vicente o filme Yellow Submarine. Descoberta! Algumas das canções, por força das letras traduzidas tomaram outro sentido, como Hey Bulldog ou It´s all too much. Mesmo All you need is love assumiu toada diferente com esse filme.

Em 1976, a revista francesa Rock & Folk publicou uma extensa reportagem por ocasião dos 10º aniversário da revista.

Esse artigo extenso, de 50 páginas, incluindo cronologia, com discografia crítica, capas dos discos ( edição francesa), indicação das canções de cada um bem como entrevistas com os músicos, constitui ao longo dos anos, a bíblia particular sobre as músicas dos Beatles.

Em Abril de 1970 o grupo separou-se e no ano seguinte, o jornal Disco, música & moda, publicava na sua primeira página um artigo sobre os Beatles a solo.

Nessa altura, a composição de George Harrison, My sweet lord, estava em primeiro lugar na listas de venda de discos. Mother, de John Lennon, seguia um pouco mais atrás e Beaucoup of blues, de Ringo Starr também arrajava lugar na lista. Apenas Another Day de Paul McCartney, não figurava em lugar explícito.


Ainda em Abril de 1970, a revista Mundo da Canção, no primeiro número que comprei, o 6, trazia a letra de Eleanor Rigby, Honey Pie e Octopus´s garden( de Revolver, do Branco e de Abbey Road). Nos números seguintes, a mesma revista, a única que valia a pena ler sobre música popular, na época ( o jornal Disco, música & moda só saiu em Fevereiro do ano seguinte), publicou as letras de Revolution 1 e Yesterday ( Branco e Help); Here comes the sun, One after 909 e Dig a Pony ( Abbey Road e Let it be, com imagem da capa deste último a preto e branco, apareceram no número 8 de Julho de 1970, imagem que se repetiu na capa do número seguinte em tom de amarelo e azul e no qual se publicaram as letras de The long and winding road e Two of us e ainda Yellow Submarine e Birthday, da banda sonora com o mesmo nome e do Branco; nesse número nem uma referência à separação dos Beatles. No número seguinte, as letras de Piggies e Help, For you Blue e I me mine ( Branco e banda sonora com o mesmo nome e ainda Let it be); no número 11, as letras de I want you ( she´s so heavy), You never gave your money, de Abbey road e Across the Universe e I got a feeling, de Let it be e no seguinte, She came through the bathroom window e Mean mr. Mustard, de Abbey Road. A primeira vez que aparece uma referência á separação dos Beatles é no número13, de 15.12.1970, num artigo interessante assinado por...José Cid que achava “ o desaparecimento dos Beatles uma lacuna que fica para sempre na Pop Music.”

Em 1973, com a publicação de duas recolhas antológicas ( a vermelha 1962-1966 e a azul 1967-1970) provavelmente retomaram-se nos rádios os temas já antigos, cuja audição não fixei nem me interessavam particularmente, mas não passaram despercebidas porque a notoriedade dos Beatles sempre se impôs nos media e dificilmente deixavam de se ouvir no rádio.

Os Beatles, enquanto grupo cuja discografia integral me interessou conhecer, apenas surgiu em finais dos anos setenta, precisamente com a publicação dos LP´s, em Portugal, pela Valentim de Carvalho, por ocasião do centenário da casa, que ocorreu em 1977 e cuja publicação se prolongou nos anos seguintes.

A canção que me despertou para a descoberta foi Two of us, de Let it Be, primeiro no rádio e depois, logo em 1981, com a audição dos discos LP em condições de fidelidade mais elevada. Depois, na mesma altura, voltei a redescobrir a beleza intemporal e mais antiga de For no one e You ve got to hide your love away ou In my life. For no one já fora uma canção que me impressionara durante o ano de 1977 ao ponto de a cantarolar frequentemente nessa altura, talvez porque era de uma tristeza premonitória.

Para além disso, nos anos setenta, a música dos Beatles confundia-se em certa medida com a música de cada um dos seus membros.

Primeiro, com George Harrison e John Lennon e depois com Paul McCartney, numa série de discos com destaque para London Town, de 1978.

Entre 1973 e 1978 mediaram cinco anos em que tomei conta da maior parte dos grandes discos da música rock, alguns deles em directo, no rádio e à medida que iam sendo publicados. A toada musical desses anos, a mais rica que jamais frequentei e experimentei, deram-me uma visão e audição relativa das músicas dos Beatles.

Por outro lado, durante essa primeira metade da década, os discos a solo de cada um dos Beatles, saíam a um ritmo impressionante, tal como a sua posição nas tabelas de charts anglo-saxónicos. A tal ponto que chegava a ler em jornais determinados singles que estavam em primeiro lugar nas vendas na Inglaterra e que ainda nem tinha ouvido por cá. O exemplo mais flagrante é Uncle Albert/Admiral Halsey, de Paul McCartney, saído em 1971 e que só escutei anos depois.

Com o advento do cd, em meados da década de oitenta, eventualmente foram publicados os discos dos Beatles, em 1987. Numa caixa com portinhola de correr, de cor escura, vinham todos acondicionados na nova tecnologia. Comprei na altura Abbey Road, como experiência, por 2 800$00, preço de capa. E Let it be, o que contém Two of us que para mim é uma música do inicio dos anos oitenta.

Na contracapa do cd diz que o disco foi "digitally re-mastered", pela EMI. Segundo se anuncia agora, em 2009, a EMI anuncia que o foi, com deficiências inerentes à técnica da época...e agora é que é.

Será?