quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

As revistas de 1979

Há trinta anos, as revistas de música que lia, resumiam-se a duas: a Rolling Stone e a Rock & Folk .
A revista Feature que aparece na imagem é de 1979 mas foi comprada há pouco, por ser uma herdeira da Crawdaddy, entretanto desaparecida.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Músicas de há trinta anos- 1979.



Em 1979, lembro-me bem, nos primeiros meses, por circunstâncias pessoais e trágicas, deixei de ouvir música, durante muito tempo.

Um dia, ou uma tarde, em descanso de sesta, acordei com uns sons que já tinha ouvido antes e não prestara atenção: no rádio soava "Reeling in the years", dos Steely Dan, de 1973 ( LP Can´t buy a thrill) com a guitarra de Elliott Randal ( um músico de estúdio que suplantou Jeff Baxter no solo, por este não o apanhar bem na altura e a quem este pediu para o tocar). O solo já foi considerado pelo próprio Jimmy Page, como o seu favorito de sempre ( informação do livrito The complete guide to the music of Steely Dan). Essa música particular retirou-me da letargia e voltei a ouvir música que nesse ano ainda não acabara de todo, como na canção de Don McLean.
No início do ano saíra um disco de interesse na música reggae, misturada com rock/pop. Bush Doctor, de Peter Tosh, com a colaboração de Mick Jagger é um disco cujo tema de abertura, Gotta Walk, don t look back, saiu em single no final de 1978 e tem vocalização daquele. No entanto, o que chama a atenção sonora é a rítmica de ferro de Sly Dunbar e Robbie Shakespeare uma dupla que viria a dar muito que falar na música popular. O disco é dos melhores no reggae, versão pop.
Também nos primeiros meses, saiu Minute by minute dos Doobie Brothers, com o êxito What a fool believes e o instrumental fantástico Steamer lane breakdown.
Os Bee Gees que em 1977 tiveram um êxito de estrondo com o disco-sound de Saturday Night Fever reincidiram no início de 1979, com o disco Spirits haveng flown, um disco que alinha uns tantos êxitos discretos que ainda hoje se ouvem com proveito, seja Too much heaven ou Tragedy.
Os Roxy Music, com o disco Manifesto, iniciaram o caminho para Avalon, com Angel eyes e Dance away, com Rick Marotta na bateria e Richard Tee nos teclados em piano.

Em Abril saiu um disco ao vivo dos Cheap Trick, gravado no Budokan do Japão e um dos melhores discos ao vivo de música popular. Em Maio, um disco dos Tubes, Remote Control, associa-se a esse tipo de música americana.
No mesmo Budokan foi gravado o disco ao vivo de Bob Dylan, saído em Junho e uma desilusão em relação ao Before the Flood, de anos antes, como aliás já o tinha sido o Hard Rain, igualmente ao vivo e saído em 76.

Em Abril saiu igualmente um disco de Frank Zappa, Sheik Yer Bouti, um dos maiores sucessos do músico e que o mesmo atribuía...à capa que representava um árabe de dejehlaba, a fumar o cigarrito da praxe na contra-capa. O disco é uma maravilha da música popular e que percorre todos os estilos do country ao jazz, passando pelo hard rock. É um dos grandes discos do ano e cujos temas se encadeiam num audição de interesse geral.
No final do ano Zappa publicou ainda um duplo LP, da trilogia Joe´s Garage, outra obra de grande fôlego artístico e com capa a condizer.
Com o recuo do tempo, esses dois discos são dos mais importantes do ano.
Os Supertramp, lançaram nessa altura o disco de canto do cisne, depois de três discos fabulosos em que se espraia de modo sonoro, o génio de Roger Hdgson: Brekafast in America. A seguir viria um disco ao vivo e os Supertramp nunca mais seriam os mesmos.

Em Junho, Emmylou Harris lançou a Blue Kentucky Girl, cujo interesse maior reside nos guitarristas James Burton e Albert Lee ( com Hank de Vitto na pedal steel guitar) e o som country, bem tocado e gravado, com o êxito Even cowgirls get the blues.
Ainda nesse mês saiu um disco da nova vaga inglesa, saida do punk de uns anos antes. Ian Dury e os Blockheads publicavam Do it yourself em tonalidade reggae e de música com mais de dois acordes. No mesmo tom, do outro lado do Atlântico, os Devo publicaram Duty now for the future e esses dois discos eram companhia habitual nos programas de rádio de António Sérgio.
Na mesma onda, no final do ano saiu o disco dos Specials, depois dos singles. A message to you Rudi, em dois tons: reggae e pop em formato ska. E também Too much too young e International jet set ou Ghost town. Specials é um grupo de 79, pós punk.

No Verão saíram os melhores discos: J.J. Cale e 5, mais Dire Straits e Communiqué e ainda Neil Young com Rust Never sleeps que me acordou também, à semelhança do reeling in the years, a ouvir a história de Pocahontas e Marlon Brando e o Astrodome e ainda o tepee.

Os primeiros acordes de Communiqué, foram ouvidos no rádio, como habitualmente.
Communiqué é a obra prima dos Dire Straits ex-aequo com Making Movies, do ano seguinte e que tem solid rock, um tema que passou no programa de António Sérgio com uma versão que nunca mais ouvi e que me ficou no ouvido para sempre. Seria um acetato? Um registo sonoro inédito e de promoção? Não sei e gostaria de saber onde desencantou António Sérgio tal preciosidade que na altura passou. Com a morte do mesmo não vai ser possível saber do próprio, mas há esperança nas gravações dos Dire Straits que vão saindo.

No Outono sairam Slow train coming, mais um dos cantos de cisne de Bob Dylan, com participação de Mark Knopfler ( quase imperceptível) e um tema que ouvia bem na altura: I believe in you. Saiu ainda um disco dos Electric Light Orchestra, Discovery que muito apreciava, depois de ter ouvido no ano anterior, Out of the blue e saiu também um que merecia o meu deslumbramento: Bop till you drop, de Ry Cooder.
O disco, o primeiro de música popular gravado digitalmente ( e depois convertido em analógico, com gravação ), é assombroso no trabalho de guitarra e ainda nos temas escolhidos. Seja nos instrumentais ( I think it s going to work out fine) seja nos vocais ( o tema de rythm and blues, Trouble you can fool me e principalmente o fabuloso I can´t win) o disco, apesar de nenhuma composição origina, mas apenas "covers", é um dos discos do ano. Ouvi-o vezes sem conta e sempre a pensar como soaria numa aparelhagem decente e de grau superior, tendo em conta a qualidade da gravação. Com o aparecimento do cd esperaria que a sonoridade fizesse justiça à gravação, mas a frieza do digital deixa muito a desejar, ainda. A não ser que algum dia apareça uma gravação em qualidade superior aos habituais 44.1 kHz, a 16 bits, norma corrente do cd...fico com a ideia sonora que o LP de 1979 ainda é superior.

No final do ano, para além dos Pink Floyd de The Wall, já aqui falado, apareceram os Led Zeppelin, com In through the outdoor, um outro canto de cisne; Eagles, com In the long run, idem aspas e os Talking Heads, com Fear of Music, uma música e um grupo também saídos do punk e new wave, neste caso americano.

Em retrospectiva, se tivesse que levar um só destes discos para uma ilha deserta e ouvir, hesitaria entre o de Ry Cooder e o de Neil Young. Rust never sleeps.

Entretanto, sorrateiramente, nessa altura aparecia uma sonoridade jazzística, nos indicativos de programas, editada pela etiqueta alemã ECM. Pat Metheny só se tornou conhecido na década seguinte, mas o LP American Garage, de 1979, contém um dos seus melhores temas instrumentais.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Pink Floyd, the wall


Em finais de 1979, a música popular tinha perdido mais de metade do interesse, para mim.
Durante todo esse ano, o número de discos publicados com valor que resistiu ao tempo, foi muito pequeno, relativamente a outros anos da década.

Actualmente e em retrospectiva aguentam-se como discos de referência da pop/rock, os de Supertramp, com Breakfast in America; Frank Zappa e Sheik Yerbouti, mais Joes´garage,1; Bee Gees e Spirits having flown; Roxy Music e Manifesto; Doobie Brothers e Minute by Minute; Neil Young e Rust never sleeps; JJ Cale e 5; Dire Straits e Communiqué; Ry Cooder e Bop till you drop e ELO com Discovery.

Em Novembro/Dezembro saiu The Wall, dos Pink Floyd, em disco duplo e que concitou a atenção geral dos rádios, com o single Another brick in the wall.
O disco começou a ser passado no rádio e com análise de alguns comentadores que glosavam os temas como um petisco sonoro e intelectual a saborear com calma e tempo.
Na verdade, o disco contém alguns bons temas musicais da autoria de Roger Waters, sendo considerado quase um disco a solo.
O tema de introdução, In the flesh, desenvolve-se depois pelo tema da educação, com o Another brick e o refrão "we don´t need no education..."
Logo a seguir, porém, surge o acústico Mother e acaba assim o lado um do LP.
No lado dois, um dos temas importantes, One of my turns, precedido por monólogos femininos em visita de casa, depois de passar pelo tema floydeano e favorito de concertos , Young Lust, precisamente um tema Waters/ Gilmour, com destaque para a guitarra deste.
O lado três, começa com Hey You e prosssegue com "is there anybody out there?, sussurrado em canto, a introduzir outro tema forte, Nobody Home, que termina em típica toada Pink Floyd. O lado termina com Confortably Numb, um dos picos do disco.
O último lado contém In the flesh, run like hell, outro tema de concerto e termina com The Trial.

De todas as vezes que ouço o disco, lembro-me da apreciação dos críticos da época ( João Filipe Barbosa, por exemplo) que referiam a obra como de grande densidade a suscitar estudo aturado dos temas e com digestão intelectual adequada. Tal como o fizeram com o disco dos Genesis, The Lamb lies down on Broadway, de 1975.