sexta-feira, 25 de março de 2011

Disc, NME e Melody Maker


Por vezes, ao longo dos anos e de reolhar para os jornais de música ingleses que comprei nos anos setenta, interrogava-me sobre o motivo de ter comprado em Julho de 1972 ( tinha então 15 anos) o jornal Disc que acima se mostra. E descobri porquê, porque me lembrei: foi por causa dos Deep Purple e do baterista que aparecia na capa, a cores que não eram usuais nos jornais de então.

Revendo o jornal, nada mais interessava. Nem sequer a recensão do LP de John Lennon, Sometime in New York City, na altura ainda nem sequer publicado na Inglaterra, devido a "publishing problems", segundo o jornal.
Sobre Ian Paice, baterista dos Deep Purple, uma página, a fls. 13.
Na última página, porém, outro motivo para compra ( 9$00, na altura): a reprodução de posters da cultura popular de então: Zappa, Che, Jimi Hendrix, Osibisa e também Midnight Cowboy e I want you for U.S. Army!

Só em Julho de 74 comprei pela primeira vez o NME, New Musical Express. Folheando, também não descortino razões imediatas para tal, na época ( e já custava 12$50). Na recensão de discos talvez esteja a resposta: o LP dos The Who, Quadrophenia. E um anúncio ao Live dos Fairport Convention que na época ouvia muito, particularmente Sloth e Rosie. E a fls. 41... uma imagem do International Nude Show. Oh Shit! Tu queres ver que? Oh no. Tem o Neil Young a fls. 14 e uma entrevista de Peter Townshend a fls. 27. Uff!

Em 1974, reincidi em Dezembro ( última imagem em baixo à esquerda) e paguei ainda os mesmos 12$50, mas não tem mistério neste caso: podia ser Led Zeppelin, com o Lp Physical Grafitti, com uma recensão tema a tema e portanto imperdível porque o disco era então imprescindível. Mas a primeira vez que ouvi o disco foi em 8 de Abril na Página Um. ( o programa esteve interrompido devido ao PREC, desde meados de Fevereiro até 5 de Abril e lembro-me que todos os dias sintonizava a Rádio Renascença, às 7 e meia da tarde para ouvir o solo de bateria do Page One, dos Pop Five) .
Portanto o motivo da compra foi o artigo sobre os Bad Company que se ouvia muitas vezes nesse programa de rádio, com observações ditirâmbicas do actual responsável pela LPM ( agência de imagem que presta assessoria ao actual governo), Luís Filipe Martins e já se ouvia na Página Um, na altura. Dizia que era um supergrupo que congregava elementos dos Free e dos King Crimson, o que sendo verdade pouco significava. No entanto, o primeiro disco trazia I can´t get enough e o segundo, Straight Shooter ainda era melhor. Foi essa a razão da compra, certamente.
E trazia a fls 24-35 um anúncio de duplo fim de página com o The Lamb lies down on Broadway, dos Genesis, o que podia ser outro motivo de gastar 12$50. Mas talvez a entrevista com Brian Eno de dupla página, a fls. 42-43 também o justificasse. Ou o anúncio a Slow Motion dos Man.

Em 1975 o interesse aumentou e expandiu-se por causa da música que ouvia no rádio, particularmente o Página Um.
Em Julho de 1975 também não tem segredo algum o motivo porque comprei o NME com imagem acima à esquerda: Neil Young, sem margem para dúvida. E por causa do Lp Tonight´s the night, até hoje um dos melhores de Neil Young.
Nas quatro páginas centrais um artigo desenvolvido sobre os Beach Boys que na altura me deixou indiferente ( não me lembrava de Holland e de California Saga...uma das canções que me ficou sempre na memória).

Ainda em 1975 comprei pela primeira vez o Melody Maker, por causa, obviamente de Roy Harper que Jaime Fernandes passava insistentemente no programa 4 da Rádio Comercial, salvo o erro Dois Pontos ou o que o precedeu.

Jaime Fernandes é um dos grandes divulgadores de música popular dessa época e de Roy harper em particular. Ou Leo Kottke. Ou os Nitty Gritty Dirt Band. Se hoje gosto desses músicos e dessa música a ele se deve, inteiramente.
Sobre Roy Harper, passava então Valentine, de 74 ou Lifemask de 73 ou mesmo Flat Baroque and berserk, de 70. Talvez passasse então uma colectânea que reunia temas de todos eles. E ainda mais o que viria em 75: HQ, um dos melhores.
No mesmo MM, na pagina 11, inteira, uma imagem de Bob Marley e os dreadlocks de Natty Dread. O anúncio dizia respeito aos concertos desse Verão no Lyceum e que originaram o célebre Live? Talvez. Este disco, Natty Dread, só o ouvi muitos anos depois, mas a imagem era fortíssima e o reggae fazia as suas primeiras aparições no mercado discográfico de grande audiência ocidental, através da Island Records de Chris Blackwell. O reeggae em finais de 74 já era tema do Página Um, com tema de Jimmy Cliff, Don´t let it die. E Ken Boothe também. Mas não era a mesma coisa que Bob Marley.
A pág. 27 uma recensão de One size fits all de Frank Zappa que o programa Espaço 3p ( Boa noite em FM, Banda Sonora e Perspectiva) um deles de Fernando Balsinha ( já falecido) passava muito e que me levou a apreciar a música de Zappa como nenhum outro disco. Quem diz Zappa diz King Crimson, Van der Graaf Generator, Camel, ou Magna Carta. E os Wings de Venus and Mars, também. E Jethro Tull. E Gentle Giant. Curved Air. Focus. Yes. Kraftwerk. Stanley Clark e outros mais. Triumvirat que passava muito Illusions on a double dimple.
Nas páginas centrais um artigo desenvolvido sobre o grafismo das capas de discos, o que me levou a comprar mais depressa o jornal, certamente.
A fls. 40-41 outro motivo de grande interesse: guitarras acústicas e um artigo sobre "eight of the best". Entre eles, Doc Watson. E duas referências em guitarras acústicas: a Epiphone 145 que tinha visto em publicidade maravilhosa, na revista National Lampoon e a Gibson 200 FG. Cada uma custava então £49. Cerca de 3000$00, na época. Uma fortuna, para mim. Um sonho adiado, por isso mesmo.
Durante todo esse ano e o seguinte sonhei com uma guitarra acústica, folk. Daquelas com a protecção em plástico preto por baixo da abertura.

Quanto aos jornais, continuei a comprar o NME e o MM sempre que os achava interessantes e o dinheiro chegava. Em Abril de 75 descobri a Rolling Stone como motivo de interesse e a Rock & Folk já vinha do ano anterior.
E em Setembro de 75, claro, It´s Zeppelin. Physical Grafitti oblige.
A seguir veio Bob Dylan com Blood on the tracks e depois o Punk, já em 1977. Com Elvis Costello na capa do MM.
Entre essas datas, porém, fiquei a conhecer os nomes dos grupos que mais me interessavam e ainda hoje interessam.

Sem comentários: