domingo, 3 de abril de 2011

Afinal havia outra Realidade


Afinal, a primeira Realidade que comprei foi a que figura em cima, à direita. Mas a primeira revista brasileira que comprei e talvez ainda antes das Selecções, foi a Cruzeiro cuja imagem está à esquerda com o sumário porque a capa se perdeu. É de 28 de Abril de 1970 e folheando a revista percebo a razão de a comprar: Zagalo, treinador da selecção de futebol do Brasil e as imagens a cores e em grande dimensão da exploração da lua, com fotos da Apollo 13 e dos astronautas. Em Abril de 1970 tinha 13 anos e esses eram os temas que me interessavam: espaço e futebol.
A primeira Realidade tem imagens de um tubarão branco, muitos anos antes do filme e com uma foto que me impressionava: a imagem de um indivíduo abocanhado por um desses esquálidos, na região do dorso e que sobreviveu. Mas tinha outra coisa que me levou a comprar: uma reportagem desenvolvida em oito páginas com diversos autores de banda desenhada que não aparecia então por cá: Tarzan de Burne Hogarth; Barbarella, de Jean-Claude Forest; Corto Maltese de Hugo Pratt e Lone Sloane de Druillet.
Só alguns anos mais tarde pude ver e ler algumas das histórias dessas bandas desenhadas mas a primeira vez que vi os desenhos a cores foi nessa Realidade, neste caso alternativa às revistas de bd da época.
Para além disso, havia muitas fotos em modo macro, do cérebro humano, dos neurónios e dendritos. Algo que nem hoje a internet consegue replicar porque as fotos impressas em papel couché ( como se dizia) eram brilhantes de de grande dimensão. Ainda trazia uma reportagem e entrevista extensas sobre Franz Stangl, um nazi que chefiou Treblinka e viveu muitos anos refugiado no Brasil ( onde chegou a ser chefe de departamento da Volkswagen) e depois de preso morreu de enfarte na cadeia ainda antes de terminar a entrevista publicada pelo Daily Telegraph Magazine.
As outras duas Realidades são de Outubro e Dezembro de 1972. Portanto, anteriores àquela que indiquei ter sido a primeira e que só agora descobri. Na de Dezembro vem a história dos Pentagon Papers em papel havana.
A de Outubro trazia uma reportagem alargada sobre a imprensa americana alternativa ou assim. Foi aí a primeira vez que reparei na revista National Lampoon de Doug Kenney, um pequeno génio da edição e que já morreu. E também foi aí que vi pela primeira vez o logotipo do Village Voice, para mim, graficamente, o melhor de sempre em todo o mundo.