sábado, 21 de maio de 2011

O processo criativo dos Beatles

[Beatles: gravação de Strawberry Fields Forever.]

Na Rock & Folk de Novembro de 1972 vem um artigo sobre os Beatles, extraído de um livro sobre os Beatles, de Alain Dister. Em dada altura, escreve o autor:

John e Paul trabalhavam muito as suas próprias canções. Escreveram então [logo no início do grupo] mais de uma centena, entre as quais poucas foram gravadas. "Love me do" que foi o primeiro sucesso e "One after 909" que apareceria no último album figuravam entre essas. A maior parte nunca foi conhecida porque Jane Asher, enquanto Paul ainda vivia com ela, ao arrumar a casa um dia, inadvertidamente, deitou-as ao lixo. As canções já eram assinadas Lennon-McCartney. Tinham uma técnica particular para escrever que mantiveram durante quase todo o tempo em que estiveram juntos. Logo que um tinha uma ideia, escrevia-a num papelinho. Depois, a partir daí, frase após frase construiam um pequeno texto, segundo o método chamado de "tentativa e erro" , lançando as palavras um pouco ao acaso, para verem se colava, reconstituindo pouco a pouco um puzzle minimamente apresentável. O espírito com que John redigia os caderninhos quando era mais jovem intervinha muito no processo de composição: humor um pouco maluco, jogo de palavras, deformação voluntária das sílabas para conferir à mesma palavra dois ou três sentidos diversos. Alguns anos mais tarde os críticos iriam arrancar os cabelos diante do "hermetismo" das canções de Lennon-McCartney, cada um com a sua explicação, para o maior divertimento dos dois compadres...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Nico e o poster

Esta imagem de Nico ( antiga cantora dos Velvet Undeground, já falecida e que na altura esteve em França num concerto a solo) foi publicada na Rock & Folk de Fevereiro de 1975 , como poster nas duas páginas centrais e por algum tempo esteve na parede do quarto por causa da beleza da imagem. A imagem da beleza feminina, então, para mim. Então inatingível e depois sublimada. Sem perdas. É uma satisfação interior sentir que se não sente nostalgia a não ser por um tempo que sendo de descoberta, conduziu a esse eldorado da beleza pura.

domingo, 8 de maio de 2011

The Lamb lies down on Broadway- Genesis

Há discos que fui ouvindo muito tempo depois de terem saído. Por vezes anos , como no caso dos discos do Grateful Dead, Little Feat ou até mesmo os dos Beatles. Discos que nunca ouvi, como o Silk Torpedo dos Pretty Things. Discos que ouvi na época em que saíram como foram quase todos os importantes na segunda metade da década de setenta. E discos que "ouvi" mesmo antes de terem saído, por ouvir falar deles e ler o que sobre eles se escrevia.

The Lamb lies down on Broadway, dos Genesis, é um deles. Saído em finais de 1974, antes da sua publicação já se falava no disco. E no rádio de então, num dia de inverno desse ano, num programa que já nem recordo mas com a participação de um dos entusiastas que animavam por vezes os programas, salvo o erro, João Filipe Barbosa ( julgo mesmo que não erro) apresentou um disco-mistério que incitava os ouvintes, logo nos primeiros compassos a adivinhar de quem se tratava...
Lembro-me que ao ouvir os primeiros sons do piano do tema inicial e que dá título ao disco, ocorreu-me que era o novo disco dos Genesis. E tendo acertado, ouvi religiosamente os restantes temas, comentados pelo convidado que apresentava o duplo LP que trouxera "lá de fora". Fiquei logo fascinado com o disco que tem alguns "hits" como "carpet crawlers" ou "counting out time".

Só algum tempo depois, na Rock & Folk de Janeiro de 1975 que chegava por cá semanas depois, li a crítica de François Ducray ao disco, mas nessa altura, ao contrário de outras já me considerava um expert na análise temática do disco que segundo aquele João Filipe Barbosa carecia de várias audições atentas para se extrair toda a essência semiótica dos temas.

A imagem supra é a do disco original, em LP. Há uns anos foi publicado em cd, rematrizado, mas a versão em sacd que nunca escutei e deve ser de muito boa feitura porque a do LP que se segue ( A trick of the tail, do início de 1976) em versão sacd é simplesmente espantosa e superior eventualmente à do LP que também tenho.

Depois desse Lp, no ano de 1975 no Verão quente da nossa democracia, os Genesis estiveram no pavilhão de Cascais para um concerto memorável a vários títulos. Na altura, o Expresso deu-lhe a suprema honra de uma pequena notícia, nas páginas de espectáculos, num artigo de algumas dezenas de palavras assinadas por Pedro Pyrrait. Tempos outros.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

The Who -Quadrophenia

Este disco que é duplo foi publicado em 1973 e foi um estouro musical no ambiente da época. Em duplo LP, o tema musical aludia às rivalidades entre jovens ingleses que se dividiam entre mods e rockers nos anos sessenta.
A música é o melhor que os The Who fizeram e este LP , na sua versão original, tem um som que lhe faz justiça. Mais que o cd rematrizado, publicado em 1996. A sonoridade do Lp relembra-me o que ouvia no rádio de então e que cheguei a gravar numa cassete especial da BASF que comprei de propósito para gravar LP´s inteiros e que então passavam no rádio desses anos.
Recentemente ouvi o disco no carro e em casa. E agora no LP original que gravei em 24bits/96KhZ. É uma maravilha de som que mostra um grande trabalho da secção rítmica ( John Entwistle e Keith Moon) em ligação perfeita com a guitarra de Pete Townshend.

Grande disco de que destaco The Punk and the Godfather. E obviamente 5:15. Aqui numa versão do Top of the Pops da época e provavelmente em play-back. Era esse o hit que se ouvia na época, no rádio. O video dá para ver como tocava Keith Moon. E o que Pete Townshend fazia aos instrumentos no fim dos concertos.

Um dos primeiros discos

Este disco de Graham Nash e David Crosby foi editado em 1972 e lembro-me de ouvir a primeira faixa- Southbound Train- que começa com uma harmónica e prolonga a música dos Crosby Stills Nash & Young.
Essa música que ouvira no rádio de então pela primeira vez, ficou-me no ouvido durante anos a fio, bem como a imagem da capa do disco numa discoteca cá da terra. É uma das imagens de capa de disco que me marcou o gosto e durante mais de vinte anos não a revi. Em 1998, a Atlantic, no âmbito da comemoração dos seus 50 anos, publicou o cd, em formato de cartão a imitar o LP.

Mas o LP era inimitável porque recortado na capa que se desdobrava em três, contendo ainda a capa interior as letras e os créditos musicais.

O LP é por isso mesmo um dos meus primeiros discos que só agora arranjei.

Os discos primeiros

Estes dois Lp´s em edição original são de 1970 e 1974. O da esquerda é o Abraxas de Santana e o da direita o Kimono my house, dos Sparks.
São dos primeiros discos que ouvi na época, em casa de um amigo meu- o José Gomes- que os comprara ( ao primeiro por 150$00) e passava com a frequência que só dantes havia em ouvir música: horas a fio e repetidas vezes.
De todas as vezes que lá entrava, o disco que tocava era frequentemente o dos Santana. Provavelmente o melhor disco do grupo e que encadeia todas as composições de um modo musicalmente coerente para o meu gosto. O dos Sparks tocava do mesmo modo e nessa altura ( 74-75) já o ouvira bastas vezes na Página Um da Rádio Renascença da época, apresentado por Luís Filipe Martins.
São dois dos primeiros discos originais que ouvi com a regularidade e que me fizeram gostar dessa música de sempre. Por isso mesmo os comprei agora, na sua versão original em prensagem inglesa.
E soam do mesmo modo que os ouvia na época. E de modo diferente dos cd´s. Mesmo o dos Santana cujo cd comemorativo dos 30 anos, rematrizado e acrescentado, não soa do mesmo modo, apesar de rematrizado e 24 bits numa edição cuidada e já com alguns anos ( é de 1998).
A capa dos discos originais, de prensagem inglesa não é da mesma qualidade que as prensagens americanas, com um cartão mais espesso e cuidado, mas é o que me lembro de ver e ouvir.