sábado, 30 de março de 2013

Zappa nos oitenta- Sheik Yerbouti

Este disco de Frank Zappa marca, a meu ver, o início dos anos oitenta na produção discográfica do artista, apesar de ter saído em Março de 1979. Sheik Yerbouti, um jogo de palavras com o conceito "disco" e a música do mesmo género que andava no ar dos rádios da época.

Em Abril de 1979 a revista Rolling Stone publicou este anúncio ao disco, numa imagem de página inteira que não deixava de intrigar pela aparência de um Zappa em djelaba árabe.


O disco em conteúdo musical nada refere a esse propósito apesar de uma canção polémica, entre outras: Jewish princess que foi sucesso melódico e um dos temas mais apelativos do disco.

Outro que me lembro de ouvir na época é o pastiche ao estilo de cantar de Dylan, por um Adrian Belew que arpegeou uns acordes de harmónica dylanesca enquanto soletrava as palavras da canção que termina num crescendo musical estilo  Before the Flood, de 1974.
O primeiro tema, esse é claro no pastiche: I have been in you refere-se ao disco de Peter Frampton, I´m in you, para o satirizar na letra sobre o "estou em ti e tu em mim..." .
Na época, tal disco de Frampton, saído em meados de 1977, na sequência do mega hit Frampton comes alive que vendeu provavelmente mais discos que Frank Zappa na vida toda,  agradou-me ao ouvido pela melodia do tema inicial e a revista Rock & Folk de Agosto de 1977 fez uma boa recensão crítica.


Sheik yerbouti, provavelmente ouvi-o no rádio da época e agradava-me ouvir essas duas músicas, mais Broken hearts are for assholes e Yo´mama e principalmente Bobby Brown, na sequência de um longo solo de guitarra e um intermezzo com bocados de conversas.
Bobby Brown tornou-se um hit em alguns países europeus do Norte ( Noruega e Alemanha) que tiveram a sorte na altura de ver ao vivo  e por cá foi uma das canções de 1979, para mim e durante muito tempo um dos paradigmas da música de Zappa como a gostava de ouvir. Felizmente que havia outros que haveria de descobrir anos mais tarde e muito mais interessantes, como a música contemporânea que Zappa compunha e inspirada em músicos como Varese, Webern ou Stravinsky.
A gravação, de qualidade excepcional, é da etiqueta de Zappa, aliás o primeiro a ser publicado na mesma, depois dos desaguisados judiciais com a firma Warner Brothers que se recusou a publicar Läther e foi publicando às pinguinhas os quatro discos que o deveriam compor. O disco, com excepção de três temas ( Rubber shirt é um deles)  é composto integralmente de temas gravados ao vivo mas com partes instrumentais em overdubbing.
Um ou outro dos temas de Sheik Yerbouti deveriam igualmente fazer parte de Läther, como Broken Hearts ou Tryin ti grow a chin e What ever happened to all the fun in the world, , um pequeno trecho de meio minuto.

À medida que o tempo vai passando e ouço a música de Zappa, Sheik Yerbouti assume uma característica de disco que não cansa ouvir, apesar de um ou outro tema esticado nos solos de guitarra, com algum fastídio depois de passar um minuto de audição.
O disco no entanto, parece um pequeno compêndio da música popular dos setenta, com o punk, Dylan, Frampton ou os Tubes ( a sequência Baby Snakes e Tryin to grow a chin tem um desempenho musical muito parecido com o disco dos Tubes ao vivo, saído em 1978 e um dos meus preferidos de sempre) e os temas encadeiam bem uns nos outros, como provavelmente poucos discos de Zappa o conseguem. Tem um tema jazzístico com baixo acústico em Rubber shirt e tem um solo de guitarra em The sheik yerbouti tango que parece interminável e é.
A qualidade de gravação é excepcional e merece a audição só por isso uma vez que a versão em vinil é excelente de dinâmica sonora mesmo transposta para gravação digital em 24 bits 192kHz, como agora aprecio ouvir.

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